Uma lição de amor; Ingmar Bergman (1954)


Imagina o aborrecimento que seria ser tudo igual. Por isso existe a morte: para originar nova vida. [Henrik Erneman]


– Nunca mais serei esposa! Já desempenhei esse papel até à exaustão. Além de que é um mau papel.
– Sê uma amante até à morte. Todos os dias começarei com uma ária sobre a tua beleza e encanto. Ao almoço ofereço-te flores, de joelhos, e todas as noites farei o papel de amante apaixonado. Vamos ver quanto tempo aguentas essa vida.
– Às vezes podias falar-me da minha beleza, podias oferecer-me uma flor, e às vezes podias
ter-me amado em vez de leres o jornal. Podias ter-me dito que sou a melhor amante do mundo, embora saibamos que não sou. Porque não brincamos um com o outro? Não podemos fazer um pouco de comédia um com o outro?
– Não num país que tem 11 meses de Inverno por ano. Com um homem que tem vergonha dos seus braços magros e barriga. Ninguém tem energia num ambiente cru e opressivo como este... Quero que vivamos na realidade. Não tenho imaginação para comédias.
[Marianne/David]


– Que crianças fomos, ao pensarmos que ia durar para sempre.
– É a experiência de todos os amantes: a impossibilidade do amor eterno.
[Marianne/David]


Primeiro trabalha-se, depois brinca-se. [David]


Afinal, que é o amor? Um esgar vigoroso que acaba num bocejo. [Marianne]


Um homem adulto é raro, meu caro. Uma mulher escolhe a criança que lhe dá mais proveito. [Marianne]


A felicidade é uma massa paralizante. Debatemo-nos, mas no fim sufocamos. [David]


Oh, não, não penses que o fruto te vai cair nas mãos com tanta facilidade. Nesse caso, há-de ser uma maçã azeda. Há coisas que não esqueço com facilidade. [Marianne, em pensamento]


– A sua virtude é difícil como o Evereste.
– Que sabe da minha virtude? As mulheres não a têm por natureza. Vocês, homens, planearam a imaculada concepção juntamente com Deus. E a virgindade, a virtude, a castidade e a inocência. Não! Não é de forma nenhuma «ámen». Um homem pode ser lascivo à sua vontade e vocês chamam-no de «garanhão», na vossa linguagem de machos. Mas se uma mulher tem vitalidade no corpo e desejo, chamam-na de prostituta.
[David/Marianne]


Tirando a reprodução, um homem é um factor negligenciável no mundo feminino. [David]


– Todas as mulheres adoram casar.
– Que ingenuidade [...] É muito ingénuo para não perceber que uma mulher não quer sentir-se como esposa, mas sim como mulher.
– E como é que isso funciona?
– Isso é o que um homem determina.
– Um trabalho a tempo inteiro, para milionários.
– Um passatempo... para homens.
[David/Marianne]


– Os problemas de casamento resolvem-se na cama.
– Isso é tão banal.
– Mas é verdade.
[David/Marianne]


Às vezes, os casamentos precisam de um abalo. Senão, morrem. [David]


Acho que tudo é terrivelmente inconsequente. [David]


A vida, na melhor das hipóteses, parece ser uma colaboração. [David]


Quando se quer ficar sozinho depressa, descobrimos que somos muita gente. [David]


É natural que a mãe tenha um amante, quando o pai também tem. [Nix]


Sabe a minha melhor amiga? Estamos sempre juntas. Ela vinha no Verão e eu estava feliz. Íamos nadar e construir uma casa na árvore. Ela veio há um tempo, estava mudada. Tornou-se numa mulherzinha parva que pinta os lábios e usa caracóis. Na praia andava a balançar e a mostrar o traseiro num fato de banho reduzido. Parecia parva com aquele traseiro enorme. E tudo o que dizia que deveríamos fazer ela achava parvo. Era uma rapariga completamente diferente! Depois apaixonou-se por um parvo que eu nem olharia para ele [...] Ela queria ficar sozinha com ele para poderem namorar e depois contou-me tudo. Chocante! [Nix]


O amor é tão chocante. Tão desesperadamente estúpido. Não quero amar homem nenhum! [Nix]


– Acho que não foi o homem o primeiro a ser criado, foi a mulher, de certeza.
– Numa manhã de sábado.
– Ao sol. Ele estava bem-disposto. A mulher foi criada a partir da terra, com a eternidade nas narinas.
– Mas chateou-se por não ter ninguém.
– Então, Deus criou o homem, depois do jantar, e no meio de um espreguiçar usou a mesma forma, mas um homem é para companhia, por isso não se preocupou muito.
– E a costela?
– Se calhar foi mais para baixo?
– Se calhar, Deus é uma mulher.
– Mulheres... são como a vida, têm maravilhas e enganos.
– Ora aí está... cria confusões e dores de cabeça, são as glândulas a ferver.
– Sim, é bom.
[David/Sam]


Eu ser um chato é um direito indiscutível. [David]


Prefiro os meus chinelos e o indiferente fogo da lareira ao seu corpo perfumado; um fogo completamente diferente, que é perigoso e destrói tudo o que chamamos de lar [...] e que leva a lado nenhum. [David]


Que terrível reacção em cadeia se seguiria a um momento de irresponsabilidade... [David]


– Não tem problemas com as mulheres?
– Desde que matei a minha noiva, não.
[David/Sam]


Tenho pena de si. Aquele que vê as mulheres de ângulos estranhos acaba sempre um pouco peculiar. [Susanne]


O arrependimento e as garras da consciência são siameses. [David]


Esta comédia podia ter sido uma tragédia, mas acabou por correr tudo bem. Nem o actor nem as actrizes são os professores desta lição, mas sim a vida, com as voltas e reviravoltas absurdas. Pode assistir a esta lição de amor com um sorriso indulgente, uma vez que é elementar e você já passou essa altura. Ou não? [narrador]

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Revólver; Guy Ritchie (2005)

Kill Bill (vol. 2); Quentin Tarantino (2004)