Recordações da Casa Amarela; João César Monteiro (1989)


Não consegui pregar olho esta noite. Tenho o corpo cheio de bagas vermelhas. Coço-me com a ponta dos dedos ao de leve, para não provocar feridas. Se meto a unha, e é uma tentação, estou feito [...] ainda os sentia a passear em cima de mim, a esfregar as patinhas de satisfação. Esforçava-me por não fazer dele pentelho e, de repente, zás! Acendia a luz, sacudia os lençóis e punha-me a vasculhar a cama toda, que nem um doido. Nem um. Nem um, finalmente esborrachado entre as minhas unhas, que esguichasse sangue por todos os lados. Só se aventuravam às escuras, os cobardes. E mesmo assim devem vir camuflados, cobertos pelo pó das frinchas e dos recantos bafientos do quarto. Largar um fósforo a isto tudo. Atear fogo à palha podre do colchão e dançar de alegria no meio das labaredas enquanto os ouço, craque, craque, craque, a estalar como castanhas ao lume. [João de Deus]


... enterrar ambas as mãos na terra e sentir que nasce tudo dela. [Mimi]


É no chão que se encontra tudo. [João de Deus]

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Revólver; Guy Ritchie (2005)

Kill Bill (vol. 2); Quentin Tarantino (2004)