Acordar para a vida; Richard Linklater (2001)


Temos de ir na maré. O mar não recusa nenhum rio. A ideia é permanecer num estado de partida constante, chegando sempre. Poupamos em apresentações e despedidas.


A viagem não exige uma explicação, apenas ocupantes.


É como chegarmos ao planeta com uma caixa de lápis. Podemos ter oito lápis, podemos ter dezasseis lápis, mas tudo se resume ao que fazemos com  eles. Com as cores que nos deram. Não importa desenharmos dentro das linhas, ou colorirmos fora delas. Para mim, temos de colorir fora das linhas. Temos de colorir fora da página. Não podemos ficar oprimidos.


Quem somos baseia-se sobretudo nas escolhas que fazemos. Ou em assumirmos responsabilidades. Só somos considerados responsáveis, culpados, admirados ou respeitados por coisas que fizemos por nossa livre vontade.


Há dois tipos de sofredores no mundo: aqueles que sofrem por não terem vida e aqueles que sofrem por terem demasiada vida.


Se pensarmos bem, quase todos os comportamentos humanos não são diferentes dos comportamentos animais. As tecnologias mais avançadas aproximam-nos, na melhor das hipóteses, do nível dos super-chimpanzés. Na realidade, o fosso entre o humano comum e, digamos, Platão ou Nietzsche, é maior do que o fosso entre o chimpanzé e o humano comum. O reino do espírito verdadeiro, do artista genuíno, do santo, do filósofo, raramente se atinge. Porque tão poucas pessoas o atingem? Por que razão a história mundial e a evolução não são histórias de progresso, mas sim uma adição interminável e fútil de zeros? Não se desenvolveram valores mais importantes. Os gregos, há 3000 anos, eram tão avançados como nós somos. Que barreiras são essas que impedem as pessoas de se aproximarem do seu verdadeiro potencial? A resposta a essa pergunta pode ser encontrada noutra pergunta: qual é a característica humana mais universal? O medo ou a preguiça?


Não está pior do que nós. É todo acção e nada de teoria. Nós somos todos teoria e nada de acção.


Vivemos com as nossas antenas a baterem umas nas outras, continuamente no piloto automático das formigas, sem que nada de humano seja exigido de nós. Pára. Segue. Anda aqui. Conduz ali. Todas as acções visam a sobrevivência. As comunicações limitam-se a manter a colónia das formigas, prosseguindo de uma forma eficiente e delicada. «Aqui tem o seu troco.» «Saco de papel ou de plástico?» «Cartão de crédito ou de débito?» «Quer ketchup?» Não quero ser uma formiga. Quero movimentos humanos verdadeiros, quero vê-lo, quero que me veja. Não quero prescindir disso; não quero ser uma formiga.

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